Príncipe contemporâneo de D. Afonso Henriques sobre cuja infância e juventude pouco ou nada se sabe. Obscuras primícias, com perda de privilégios, enxovalhos e destituição pela mão de um rei usurpador remeteram Jayavarman para os confins de um império khmer decaído e vulnerável. Ali esteve anos estudando e discutindo religião à sombra de um templo bramânico até que, subitamente, por volta dos quarenta anos de idade, a pálida estrela deste desterrado mudou de radiância. Uma invasão brutal e destruidora, o saque e colapso da capital khmer fizeram deste proscrito o salvador do seu povo. O monge fez-se soldado, o estudioso deixou de parte o recolhimento e comandou os exércitos camponeses na reconquista da liberdade. Depois da vitória, corou-se rei e transformou-se no mais ardoroso pregador do budismo, declarando-o religião do Estado. Na tradição khmer dos reis divinos, foi tido como o mais virtuoso dos mortais, o mais rigoroso intérprete da palavra do Iluminado, logo, como Assok o fora para a Índia, um Buda-Rei. Reinou quase meio século e dele ficou a nagara (capital) Angkor Thom que conhecemos. Do "culto da personalidade" que rodeou este génio militar e político ficaram vestígios ainda hoje profundamente enraízados na teoria do poder real que o budismo therevada transporta. O Rei da Tailândia é o último destes monarcas, posto que o Rei do Camboja, reposto no trono após o pesadelo totalitário comunista de Pol Pot, perdeu grande parte do halo sobrenatural que o investia como intermediário entre o cosmos e o mundo dos homens.
Jayavarman foi um rei patriarca e paternal. Doente minado pela insidiosa lepra que lhe corrompeu o corpo e reforçou o espírito, espalhou o bem e a misericórdia. Mandou construir mais de cem hospitais, leprosarias, casas de acolhimento para orfãos e deficientes, rasgou estradas e assegurou protecção a peregrinos, dando-lhes comida, cama e lume. Ao morrer, com noventa anos, mereceria sem dúvida mais santidade que S. Luís de França. Rezam as crónicas reais khmeres que o Rei trabalhou até ao último dia de vida, padecendo de dores lancinantes. Ao morrer, o seu povo chorou-o durante décadas, na lembrança do grande monarca que os retirara das trevas.
É desta aventura espiritual de um homem diminuído mas gigante que nos relata a The King's last Song. É raro um revolucionário religioso (ou político) possuir tacto político. Amenófis IV condenou o Egipto à miséria, como Lutero lançou a Europa na mais perversa e longa das guerras que levaram ao colapso da Respublica Christiana. Basta um homem bom para que o mundo se salve da dor, parece ser o epitáfio do grande Rei.
Jayavarman foi um rei patriarca e paternal. Doente minado pela insidiosa lepra que lhe corrompeu o corpo e reforçou o espírito, espalhou o bem e a misericórdia. Mandou construir mais de cem hospitais, leprosarias, casas de acolhimento para orfãos e deficientes, rasgou estradas e assegurou protecção a peregrinos, dando-lhes comida, cama e lume. Ao morrer, com noventa anos, mereceria sem dúvida mais santidade que S. Luís de França. Rezam as crónicas reais khmeres que o Rei trabalhou até ao último dia de vida, padecendo de dores lancinantes. Ao morrer, o seu povo chorou-o durante décadas, na lembrança do grande monarca que os retirara das trevas.
É desta aventura espiritual de um homem diminuído mas gigante que nos relata a The King's last Song. É raro um revolucionário religioso (ou político) possuir tacto político. Amenófis IV condenou o Egipto à miséria, como Lutero lançou a Europa na mais perversa e longa das guerras que levaram ao colapso da Respublica Christiana. Basta um homem bom para que o mundo se salve da dor, parece ser o epitáfio do grande Rei.
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