A estupidez inteligente e as vozes informadas só se referem a Aung San Suu Kyi quando se trata de apresentar o rosto de uma Birmânia em luta pela liberdade e pelos direitos civis. Se Aung San Suu Kyi é filha e herdeira política testamentária de Aung San - ex-comunista convertido à variante japonesa do fascismo, cavaleiro da Ordem do Sol Nascente por imposição directa do imperador Hirohito, em 1943 - há um outro homem em Yangoon (Rangun) que inspira terror à ditadura militar. Trata-se do príncipe Tan Paya, neto do rei Thibaw, último da dinastia Konbaung, afastado do trono pelos britânicos em 1885, no rescaldo da terceira guerra anglo-birmanesa e enviado para o exílio na Índia, onde morreu quase na miséria em 1916.
Se a activista anti-regime pode ser retida em prisão domiciliária, os seus partidários mortos, espancados ou atirados para o exílio, num príncipe de sangue ninguém se atreve tocar. O ancião diz o que pensa num país onde pensar é quase um delito, deliciando-se quando afirma, referindo-se ao estado degradante de controlo a que chegou o país que "se alguém dá um flato cá em casa, há sempre alguém que leva a nova à Junta Militar". Os militares temem-no, pois Tan Paya é um símbolo de uma velha Birmânia pré-colonial onde o rei era tido como um deus vivo. Cometer o sacrilégio de atentar contra a vida de um homem com tal árvore genealógica é caminho certo para uma reencarnação descendente, pelo que os generais fingem não compreender este homem que se recusa vestir como um colonizado, recebe em sua casa jornalistas ocidentais, se recusa prestar fidelidade à constituição e se refere à Birmânia como "o meu país". Os tiranos abominam os reis, que lhes lembram a sua insignificância passageira, mas raramente se atrevem tocar-lhes. Só nós, portugueses - ou antes, "eles", os tais que tinham 5% em 1910 - quiseram resolver o destino do país matando o Rei na praça pública. Ou seja, neste particular, os republicanos portugueses excederam largamente o atrevimento homicida da Junta Militar birmanesa.
Se a activista anti-regime pode ser retida em prisão domiciliária, os seus partidários mortos, espancados ou atirados para o exílio, num príncipe de sangue ninguém se atreve tocar. O ancião diz o que pensa num país onde pensar é quase um delito, deliciando-se quando afirma, referindo-se ao estado degradante de controlo a que chegou o país que "se alguém dá um flato cá em casa, há sempre alguém que leva a nova à Junta Militar". Os militares temem-no, pois Tan Paya é um símbolo de uma velha Birmânia pré-colonial onde o rei era tido como um deus vivo. Cometer o sacrilégio de atentar contra a vida de um homem com tal árvore genealógica é caminho certo para uma reencarnação descendente, pelo que os generais fingem não compreender este homem que se recusa vestir como um colonizado, recebe em sua casa jornalistas ocidentais, se recusa prestar fidelidade à constituição e se refere à Birmânia como "o meu país". Os tiranos abominam os reis, que lhes lembram a sua insignificância passageira, mas raramente se atrevem tocar-lhes. Só nós, portugueses - ou antes, "eles", os tais que tinham 5% em 1910 - quiseram resolver o destino do país matando o Rei na praça pública. Ou seja, neste particular, os republicanos portugueses excederam largamente o atrevimento homicida da Junta Militar birmanesa.